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INTERVENÇÃO DE CELSO COSTA, MEMBRO DO COMITÉ CENTRAL DO PCP
É hora de mudar de política
Faro, 3 Dezembro 2023
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Camaradas e amigos,

Boa tarde a todos.

 

Uma forte saudação a todos os aqui presentes nesta sala, que enchem por completo este espaço. Estamos a realizar esta iniciativa, este almoço convívio aqui em Faro, num momento particular do nosso tempo social e político.

A análise da actual situação social diz-nos que estamos num quadro de acentuadas desigualdades entre trabalho e capital. Entre os muitos que, com dificuldade, vivem do seu salário e da sua reforma e aqueles poucos, acionistas dos grupos económicos, que vivem da exploração e da acumulação de capital, que estão a ficar mais ricos que nunca.

Para o lado do Capital veja-se um quadro estatístico que a CGTP apresentou em Setembro no seu documento “prioridades para a política reivindicativa para 2024”, que faz uma soma dos lucros de 20 grupos económicos nos primeiros 6 meses do ano e dá o escandaloso resultado de 25 milhões de euros por dia. Nunca como agora o capital teve tantos lucros.

Aqui no Algarve quem também não está nada mal são os grupos privados da saúde. Com a quantidade de hospitais e clínicas abertas e mais as previstas para construir - é porque o negócio da doença rende bem.

Veja-se com outro exemplo, os proveitos e receitas do turismo, principal sector económico da região, onde também aqui se atingiu recordes de lucros, foram muitos milhões arrecadados, principalmente pelos grandes grupos hoteleiros que dominam o sector.  

As estatísticas indicam, até agora, o 2023 como o melhor ano de sempre, com um exponencial crescimento dos proveitos do alojamento face a outros anos, com acréscimos de mais de 32%.

Isto é a realidade e os números do lado do capital.

Já do lado oposto, o do trabalho, a situação não é de crescimento e bons números ao fim do mês.

Fruto dos baixos salários e reformas a gestão das contas já não se fazem só ao fim do mês, já se fazem no dia-a-dia, na ida às compras, à farmácia ou quando se vai à bomba de gasolina e se verifica que os preços de ontem não são os de hoje. Quem vive do esforço do seu trabalho assiste com grande preocupação a toda esta escalada do custo de vida, em particular dos preços de bens e serviços essenciais.

Pagar renda ou o empréstimo da casa são cada vez mais de uma enorme violência, que nos trazem diariamente noticias de despejos, entrega de casas aos bancos por incumprimento, mas também de situações de recusa de oferta de trabalho e mesmo despedimentos por quem não aguenta despesas com habitação e tem de mudar de local de residência.

Ainda pegando no turismo, pela importância que tem no Algarve, deixava um número lançado à dias numa conferência sobre o sector, pelo próprio Secretário de Estado do Turismo, que afirmou que “os salários no turismo estão 30% abaixo da média dos salários do resto da economia”.

Ora isto tem enorme significado aqui para a região, com o peso no emprego que o turismo tem, não admira por isso que o Algarve seja uma região tão vulnerável a crises económicas, sofrendo com isso os seus trabalhadores.

O quadro social é pois de enorme desigualdade e crescente injustiça, com os grupos económicos a ficar com a maior parte da riqueza criada, e em que os trabalhadores vão ficando com cada vez menor parte, através do acentuar da exploração com salários de miséria.

Camaradas, Referi que os tempos políticos são também particulares.

O que tem de particular e a destacar na marcação de eleições legislativas antecipadas, é que abre uma oportunidade para se mudar de rumo, para contrariar o desequilíbrio social, para se mudar de política de favorecimento dos grupos económicos, para se poder avançar na construção da Alternativa à política de direita. 

Esta oportunidade tem de ser agarrada também aqui na região. É preciso alterar o caminho que se leva e derrotar a política de direita que não serve a região e a sua população.

Se no Algarve temos um sector económico dominante é porque durante décadas se pôs em prática uma política de favorecimento dos grupos ligados ao turismo, lhes deu espaço e força para avançar, podendo ter actualmente os salários baixos como o exemplificado à pouco.

Se na nossa região os custos com a habitação são graves entraves ao acesso a uma casa para viver, é porque a política de direita ao longo dos anos deixou especular terrenos e imóveis, só comportáveis para turista rico, como se vê em quase toda a faixa do litoral e nos centros urbanos.

Se os muitos exemplos que nós conhecemos por esse Algarve fora, de pessoas ameaçadas e mesmo despejadas devido à subida dos preços das rendas, das taxas de juro e à chantagem de terem de ir embora para transformar habitações arrendadas em fonte de rendimento turístico é porque a política de direita que entrega a habitação ao mercado é contrária à Constituição da República.

Se quando vamos ao serviço nacional de saúde, ao hospital de Portimão e o serviço de Pediatria está encerrado e temos de vir para Faro, ou se vamos ao Hospital de Faro e o serviço de Ortopedia está encerrado e temos de ir para Portimão, ou se vamos a um centro de saúde como o de Albufeira e somos um dos cerca de 17 mil utentes sem médico de família, é porque há interesses na destruição do SNS que ditam a política dos serviços públicos.

São vários os exemplos, e podíamos ir buscar mais, que espelham bem a necessidade e a urgência de uma política Alternativa patriótica e de esquerda.

Quanto a responsáveis: nos últimos anos tem sido o PS e antes foram PSD e CDS, com a participação de quem hoje se apresenta na IL e no Chega.

Nos últimos tempos tem sido o PS, e ainda mais desde que ganhou a maioria absoluta. Foi o PS que executou a política de direita contrária à subida de salários e pensões, que deixa os direitos dos trabalhadores nas mãos do patronato, que deixa encerrar serviços nos hospitais à vez e não avançou com a construção do Hospital central do Algarve, que mantém as portagens na Via do Infante, que não aposta no desenvolvimento da produção regional.

Tem sido o PS a favorecer os que ganham com a exploração e o saque das riquezas do nosso país.

Não se pode deixar de responsabilizar o PSD, o CDS, e os outros partidos reaccionários ao serviço, também eles, dos lucros dos grandes grupos económicos - o Chega e a Iniciativa Liberal.

Nesta hora da responsabilização não se pode hesitar em quem tem de ser apontado como executor e apoiante de tais políticas – PS, PSD, CDS, IL e Chega.

Camaradas, componente fundamental nesta fase e da qual não se pode prescindir ou dar folga é ao desenvolvimento da luta de massas, em particular a dos trabalhadores.

Dava só 2 exemplos recentes, para valorizar: os trabalhadores da administração pública que no dia 27 de Outubro deram uma grande expressão à greve decretada pela Frente Comum, com grande adesão em muitos serviços públicos na região. Afirmando que é nos locais de trabalho que se luta por salários e se defende os serviços públicos e as funções sociais do estado, como o SNS e a escola pública.

E a luta dos trabalhadores dos hotéis Porto Bay Falésia Albufeira e Alcazar Monte Gordo que fazendo frente às injustiças e aos baixos salários avançaram para a greve aos feriados e que têm tido expressão, nomeadamente no passado feriado 1 de Dezembro. É também aqui nos hotéis que se trava a batalha contra os tais salários 30% abaixo da média dos outros sectores. 

Camaradas, é neste contexto que vamos a eleições, com o objectivo de reforçar o PCP e a CDU, com todos os democratas e patriotas que se juntam a nós. Com toda a confiança, vamos a essa exigente batalha das eleições a 10 Março.

Com iniciativa e assumindo uma grande campanha da CDU por toda a região – ir para rua com o objectivo de eleger 1 deputado.E que falta faz falta ao Algarve ter um eleito CDU na Assembleia da República.

Alguém que defenda os interesses da região e os algarvios.

Que lute pelo aumento dos salários e alteração das leis laborais. Que defenda a produção regional, da qual a pesca é uma parte fundamental, com a requalificação dos portos algarvios e a construção de um novo porto em Tavira. Um deputado que lute pelas urgentes obras nas estradas 125 e 124, que exija melhorias na ferrovia e a eliminação das portagens na Via do Infante. Um deputado que apresente soluções para o problema da falta de água na região e que defenda a construção da barragem da Foupana, há tantos anos em falta.

Camaradas, O tempo é de luta e de muito trabalho. Temos de avançar com otimismo e confiança. Há tarefas de reforço do Partido que são imprescindíveis e devem também avançar, não iremos deixar tudo o resto e só fazer campanha eleitoral.

Medidas como a responsabilização de quadros, o recrutamento, o reforço da venda do Avante ou desenvolvimento da campanha de fundos “Dia de Salário”, precisam de continuar .

Assim como vão continuar as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, que têm agora um cariz redobrado de significado político e não podem cair nas mãos dos que são contra Abril e os seus valores. Temos a força e o exemplo dos processos de luta, temos os valores de Abril que nos dão ânimo, a força e a validade das nossas propostas, os resultados das eleições na Madeira, temos sobretudo um grande Partido, os seus militantes e acção.

O momento é de confiança. Essa é a base da importante tarefa que temos em mãos.

 

Viva o PCP!

Viva a CDU!