

Carina Infante do Carmo, por seu lado, reflectiu sobre o modo como a figura e a obra camonianas sustentaram a construção da ideia de pátria e povo por parte do PCP: com profunda consciência histórica, na sequência da tradição liberal e republicana, afrontou desse modo o viés colonialista e supremacista do salazarismo e na perspectiva esperançada de um futuro democrático em que Camões finalmente fosse elevado ao seu merecido lugar. Partindo de excertos da lírica e da épica de Camões, foi possível apreender os modos como o poeta se fez voz do povo e da nação portuguesa, da insubmissão e do progresso social, na medida em que celebrou criticamente as Descobertas, denunciou os desmandos dos poderosos, propôs um novo rumo para Portugal, assumindo o amor da pátria e exaltando a figura do homem humanista, sábio, experimentado, a beleza e o prazer dos sentidos.
Ao longo do debate, enriquecido por perguntas e comentários da assistência, foi sublinhada o inestimável contributo da leitura crítica proposta por António Borges Coelho na antologia Os Lusíadas. Antologia Temática e Texto Crítico, que as Edições Avante! reeditaram, em 2024, no âmbito do V Centenário do Nascimento de Luís de Camões.