PCP assinala no Algarve o 70º Aniversário da Vitória sobre o Nazi-fascismo
Com a realização de três iniciativas no Algarve - Faro, Portimão e VRSA - o PCP assinalou o 70º Aniversário sobre o Nazi-fascismo nos dias 19 e 20 de Junho. Iniciativas que permitiram o debate sobre o significado desta data e a sua projecção na actualidade face às ameaças do imperialismo, mas também, no estímulo à luta dos povos pela Paz.
Intervenção de Manuela Bernardino - membro do Secretariado da Comité Central do PCP na iniciativa realizada no dia 20 de Junho em Faro.
Gostaria de começar por valorizar a iniciativa de convívio que a organização concelhia de Faro decidiu realizar para assinalar o 70º aniversário do fim da 2ª guerra Mundial e da Vitória sobre o nazi-fascismo, procurando tirar ensinamentos para os nossos dias daquela que foi uma tragédia maior da história contemporânea e o acontecimento mais negro do século XX.
Conhecer o que foi o fascismo, a sua natureza de classe, as suas origens, os seus promotores e cúmplices e os seus crimes é hoje de uma grande importância e actualidade porque, embora consideremos que a História não se repete, há factos e situações concretas para os quais a nossa experiência nos alerta e nos aponta caminhos para a nossa luta na actualidade contra o fascismo e a guerra.
Vivemos hoje uma situação extraordinariamente complexa e perigosa, resultante do aprofundamento da crise estrutural do capitalismo e da sua mais profunda e prolongada crise cíclica - sem fim à vista - e para a qual as classes dominantes não encontram saída.
Entretanto, é cada vez mais evidente que os sectores mais reaccionários e agressivos do grande capital jogam numa “saída” através de focos de tensão e de guerra, numa aguda luta por esferas de influência e de domínio.
Simultaneamente o avanço de forças xenófobas e de extrema-direita, mesmo de partidos fascistas com assento em vários parlamentos e a recente constituição dum grupo parlamentar fascista no Parlamento Europeu (esta semana), a par de medidas securitárias que atentam contra liberdades e direitos democráticos fundamentais em nome do “combate ao terrorismo” ou mesmo em relação à tragédia dos emigrantes no Mediterrâneo, são motivo de grande preocupação.
Dimensão muito perigosa assume o fascismo já instalado na Ucrânia – que ilegalizou o pc – e conduz uma guerra no Donbass; assim como toda a destabilização da Síria e do Iraque provocada pelo chamado “Estado Islâmico”, força terrorista fomentada pelo imperialismo.
É claro que boa parte das classes que dominam ou pretendem hoje dominar o mundo apostam de novo no terror, na violência e na guerra para afirmar o seu poder.
A 2ª Guerra Mundial, no início, foi uma guerra inter- imperialista, uma guerra entre potências capitalistas. Dum lado a Alemanha e a ambição dos seus monopólios, a Itália e o Japão, do outro lado a Grã-Bretanha a defender o seu império colonial e a sua supremacia, a França e os EUA que viria a confirmar-se como potência capitalista dominante.
As contradições entre as grandes potências capitalistas foram agudizadas pela crise económica de 1929/33 que conduziu a um desemprego massivo. Foi a crise que alimentou o fascismo que, entretanto, tinha assumido o poder em vários países na Europa – Itália, Bulgária, Hungria, Roménia, Portugal.
A 2ª Guerra Mundial é ainda inseparável da 1ª Guerra de 1914-18 e do seu desfecho, com Lénine a considerar o Tratado de Versalhes como de rapina imperialista (“isto não é paz, mas condições ditadas por bandidos”). As potências vencedoras impuseram à Alemanha condições humilhantes que Hitler aproveitou para atiçar o nacionalismo mais agressivo e pô-lo ao serviço dos monopólios alemães – dos Krupp, Thissen, etc.
Mas a 2ª Guerra Mundial transformou-se, com a participação da União Soviética, numa guerra antifascista de libertação nacional que o povo soviético designou como a “Grande Guerra Pátria”.
Camaradas
É importante sublinhar que as potências capitalistas em confronto viam a URSS e o movimento comunista internacional como inimigo comum. E é assim que num primeiro momento se desenvolvem grandes manobras para canalizar o nazismo contra a URSS.
A recusa da Grã-Bretanha e da França de alianças com a União Soviética é disso prova e vai levar a que a URSS aceite a proposta da Alemanha do Tratado de Não Agressão, em Agosto de 1939.
Mais tarde, perante a contra-ofensiva do Exército Vermelho e a barbarie nazi, desenvolve-se o entendimento que conduz à aliança desses países e dos EUA com a URSS (os “Aliados”).
A luta contra o fascismo e a guerra surge logo nos anos 20, quando se instalam várias ditaduras fascistas na Europa que tinham como objectivo combater o movimento operário e comunista que se havia desenvolvido sob o impacto da Revolução de Outubro.
A acção dos partidos comunistas foi de imediato denunciar e combater o perigo do fascismo e as suas raízes, procurando amplas alianças com esse objectivo. Mas foi, sem qualquer dúvida, o VII Congresso da IC (1935) e o papel de Dimitrov com a caracterização de classe do fascismo (“fascismo no poder é a ditadura terrorista aberta dos elementos mais reaccionários, chauvinistas e imperialistas do capital financeiro e não como expressão de classe da pequena burguesia”) e a proposta que saiu desse Congresso da política de frente única da classe operária e de Frentes Populares o que deu uma valiosa contribuição teórica e política para fazer frente ao perigoso ascenso do fascismo.
Os comunistas buscaram construir alianças com os sociais-democratas que, infelizmente, as recusaram em momentos decisivos, como o período de avanço do nazismo na Alemanha, assumindo com essa posição pesadas responsabilidades para o próprio desencadear da guerra.
A guerra tem início a 1 de Setembro de 1939 com a invasão da Polónia pelas tropas nazis e a declaração de guerra da França e Inglaterra à Alemanha. Contudo, estas duas potências e, apesar de terem exércitos bem preparados, só intervieram mais tarde – passados 9 meses - dando origem a que se designasse este período como “guerra estranha”.
Mas, nos anos anteriores já se tinham registado agressões e ocupações por parte das potências fascistas.
- Em 1931, o Japão invadiu a Manchúria (em 1937 estende as acções militares a toda a China e invade a Mongólia – 2º país socialista). O Japão, desenvolve assim, no Extremo Oriente, uma “guerra secreta” contra a URSS
- Em 1935, a Itália invade a Etiópia, único país africano a manter a sua independência durante a vaga de ocupações coloniais
- Em 1936, inicia-se a guerra civil de Espanha, com a rebelião fascista de Franco, contra a vitória republicana da Frente Popular
Franco contou com o apoio de Mussolini e de Hitler, mas o fascismo pode instalar-se em Espanha também pela acção vergonhosa da política de “não intervenção” das democracias ocidentais, o que representou, de facto, um apoio ao fascismo espanhol
É durante a Guerrra Civil de Espanha que tem lugar o 1º bombardeamento sobre populações civis, em Guernica
- Em Março de 1938, Hitler anexa a Áustria
- Em Setembro de 1938, a Alemanha ocupa a zona dos Sudetas da Checoslováquia e, em Março de 1939, ocupa o resto do país
Neste período é de salientar:
- a política externa da União Soviética, orientada para a segurança colectiva e os tratados de paz, visando isolar os fautores da guerra;
- a acção dos comunistas, com mobilizações antifascistas e a sua solidariedade internacionalista, de que é exemplo ímpar a acção das Brigadas Internacionais, em Espanha;
- o oportunismo da social democracia e a recusa à acção comum;
- a posição ambígua das democracias ocidentais evidente na política de neutralidade em relação a Espanha;
- a política de cedências constantes (política de apaziaguamento) que tem a sua mais grave expressão no Tratado de Munique, assinado em Setembro de 1938, com a participação de Chamberlain (GB) e Daladier (F), Hitler e Mussolini - o que viria a permitir a ocupação da Checoslováquia e abriu as portas para a guerra.
Na estratégia agressiva de Hitler contra a União Soviética, esteve a procura de ter uma rectaguarda segura antes de se virar militarmente para a URSS, objectivo designado por plano “Barba Rossa”.
É assim que começa por invadir e ocupar vários países a ocidente, onde instala o terror para dominar os respectivos povos.
Bombardeia a Grã Bretanha – É a batalha de Inglaterra, bombardeando Londres e outras cidades. Deve destacar-se a acção corajosa do povo britânico, em defesa do seu país;
Ocupa parte significativa do norte da França e instala no sul, em Vichy, um regime fascista presidido por Pétain.
A burguesia francesa entrega-se; resitem os comunistas e outros antifascistas
A resistência guerrilheira na Jugoslávia é também um importante factor para a Vitória
Assim como a resistência nos outros países ocupados pelos nazis
A invasão da União Soviética dá-se em Junho de 1941
Numa primeira fase há um avanço acelerado das tropas nazis até Moscovo e Leninegrado, parecendo que tudo está perdido.
Mas é o povo organizado na rectaguarda, através da luta de guerrilha, que permite o reagrupamento do Exército Vermelho e que, a par da epopeia da deslocação das indústrias para os Urais, possibilitou criar as condições para a resistência heróica dos militares e do povo soviético.
A “guerra relâmpago” com que os nazis contavam vencer as tropas soviéticas, ao invadir a URSS, fracassa às portas de Moscovo, onde se dá o primeiro grande embate da resistência do povo soviético. Esta primeira derrota do exército nazi assinala o fim do mito da sua invencibilidade.
Em Leninegrado, os nazis, avaliando que não poderiam tomar a cidade de assalto, mudaram de táctica e iniciaram o cerco para, através de bombardeamentos aereos, destruir a cidade e a população.
O cerco durou cerca de 900 dias (Setº 41 até início de 1944). Colocou tarefas muito exigentes, nomeadamente o da alimentação das tropas e da população.
É de um grande heroismo a história da defesa de Leninegrado. Os seus defensores – toda a população da cidade – sob a orientação do Partido comunista e do Governo soviético construiram poderosas linhas de fortificações e transformaram a indústria habitual em indústria de armamento, munições e tanques a par de parte significativa da população receber instrução militar.
A par do cerco a Leninegrado, em Setº 42, os nazis concentram elevado número de divisões e lançam as suas tropas numa larga ofensiva pela planície russa visando tomar Stalinegrado; em meados de Novº as tropas soviéticas cercaram o grosso das divisões nazis e em Fevº de 43 rompem a frente alemã e avançam centenas de quilómetros para ocidente.
Foram 6 meses de acesos combates que, vencidos, iriam permitir a contra-ofensiva soviética que, passando por várias batalhas, como a histórica batalha de tanques de Kursk (Ag. de 43) só vai terminar em Berlim, com a tomada do Reichtag.
Nunca será demais lembrar e prestar homenagem ao heroismo do povo soviético que, com o sacrifício dos seus 20 ou 27 milhões de mortos, deu uma contribuição decisiva para libertar a Humanidade do flagelo do nazi-fascismo.
A resistência e o heroismo demonstrados são inseparáveis do novo sistema social que o povo soviético construia e do papel dirigente do partido comunista e do Estado soviético, aspectos que os historiadores burgueses tentam minimizar, dizendo que quem derrotou os nazis foi o inverno russo.
A 2ª frente. O chamado “Dia D”
A 6 de Junho de 1944, quando o nazismo caminha já a largos passos para a derrota tem lugar o desembarque na Normandia das “tropas aliadas”. Apresentado pela historiografia do sistema como “acção decisiva” para a Vitória, visa minimizar toda a acção do Exército Vermelho que de facto derrotou as tropas nazis, - impondo uma viragem na guerra e uma viragem na posição dos “aliados”.
As tropas soviéticas já tinham libertado praticamente o seu território nacional e iniciavam a libertação dos países vizinhos.
A libertação de Berlim pelo Exército Vermelho dá-se a 2 de Maio de 1945 e a 8 de Maio é a rendição. Foi o episódio final da guerra na Europa.
No Extremo Oriente ela terminaria mais tarde com os dramáticos crimes de Hiroshima e Nagazaki, em Agosto. Justificar esses crimes – o lançamento de duas bombas atómicas sobre essas cidades japonesas, pela aviação dos EUA – para obrigar à rendição do Japão é mais um embuste da historiografia do imperialismo.
Ao assinalarmos o fim da 2ª GM não esquecemos os crimes do fascismo e os horrores da guerra, com os seus 60 milhões de mortos, mais de 3 milhões de prisioneiros em campos de concentração. Não esquecemos os fornos crematórios, as câmaras de gás, os assassinatos de populações inteiras – Guernica (em Espanha) , Oradour (França), Lidice (Checoslováquia) – o fuzilamento dos resistentes em vários países, as privações e humilhações infligidas aos povos.
Camaradas
A Vitória constituiu um momento de viragem histórica, alterando profundamente a correlação de forças no plano mundial.
O socialismo prestigia-se e avança na Europa e na Ásia, enquanto em muitos países se constituem governos progressistas, com a participação dos comunistas
Os trabalhadores alcançam conquistas sociais e laborais sem precedentes e avança um poderoso movimento de libertação nacional que cria as bases para a derrocada dos impérios coloniais
Nasce uma nova ordem mundial, democrática e pacífica, consubstanciada nos princípios da Carta da ONU
Mas o imperialismo não aceita o novo quadro mundial
Para travar o impetuoso movimento operário e popular tem lugar um realinhamento das potências capitalistas vencedoras com os adversários fascistas em nome do combate ao comunismo.
Inicia-se o que se designou por “guerra fria”, em que os crimes atómicos dos EUA, em Agosto de 1945, são por muitos considerados não como o último episódio da 2ª Guerra Mundial, mas como a primeira intervenção desta nova ofensiva.
Em 1947, Churchil, em Fulton, profere o célebre discurso sobre a “cortina de ferro”, discurso que simboliza o início da guerra fria.
As potências europeias, procurando perservar os seus domínios coloniais, perseguem pela força as forças de resistência e libertação nacional.
A criação da NATO em 1949 é um novo instrumento ofensivo (embora se tenha apresentado como organização defensiva) para a contenção do comunismo.
Mas nada disto impediu o avanço do processo libertador, durante as décadas que se seguiram à vitória.
É neste quadro, e beneficiando da projecção das realizações do socialismo no mundo, das conquistas do movimento operário e do processo de derrocada do colonialismo, que tem lugar a nossa Revolução de Abril.
Camaradas
Aqui chegados, importa questinarmo-nos,
como se posicionou e comportou o fascismo português durante a 2ª GM ?
A “neutralidade” que Salazar apreguou, visou esconder uma efectiva colaboração com Hitler e, ainda hoje, o branqueamento sobre essa posição vai ao ponto de alguns defenderem que até teria estado com os aliados.
Mas a verdade é que a partir do nosso país seguiam clandestinamente carregamentos de alimentos para a Alemanha, alimentos que eram retirados ao povo português, num período em que alastrava a fome entre a classe operária e em diversas camadas populares.
Simultaneamente Portugal tornou-se numa plataforma da espionagem nazi e enviava igualmente para a Alemanha matérias primas estratégicas (volfrâmio) para o esforço de guerra nazi.
Entretanto, o povo manifestava-se contra a guerra cujos desenvolvimentos ia conhecendo pelo “Avante” e as acções de agitação do Partido.
As manifestações da Vitória em Lisboa e em muitas outras localidades revelaram não só o regozijo pelo fim da guerra, mas igualmente a esperança do fim do fascismo em Portugal.
Camaradas
A desagregação da URSS e as derrotas do socialismo alterou radicalmente a correlação de forças
O imperialismo desencadeia uma violenta ofensiva, visando recuperar posições perdidas
A situação dos nossos dias insere-se nesta contra-ofensiva que a crise do capitalismo torna particularmente perigosa
70 anos depois da Vitória sobre o nazi-fascismo, a luta pela paz, contra o fascismo e a guerra é de flagrante actualidade
O PCP, partido patriótico e internacionalista, tudo fará, no país e no plano intenacional, no quadro do movimento comunista e revolucionário intenacional e da frente anti-imperialista para unir as forças da paz na luta:
Pela dissolução da NATO
Contra a militarização da U.E.
Pelo desarmamento, em particular, as armas nucleares e de destruição massiva
Pelo respeito da carta da ONU e pela solidatriedade com todos os povos vítimas de ingerências e agressões do imperialismo
Pensamos que há forças, se unidas e organizadas, que podem forçar a reacção e o imperialismo a recuar.
A guerra não é inevitável. A par de grandes perigos para a paz e a liberdade dos povos também existem grandes possibilidades de desenvolvimentos progressistas e revolucionários.
Estamos certos que a nossa Festa do “Avante” será mais uma vez uma forte expressão de solidariedade internacionalista, necessária e decisiva para defender a paz, as aspirações e os anseios dos trabalhadores e dos povos.
Camaradas
Para terminar umas curtas palavras sobre a situação no nosso país e as tarefas que temos pela frente.
A gravidade da situação económica e social é conhecida de todos – diariamente vamos sentindo os seus efeitos.
Neste quadro a marcha que realizámos “A força do povo”, no quadro da CDU, e o seu extraordinário êxito dão-nos mais força e confiança para prosseguir as lutas de massas sectoriais e das populações e inseri-las na batalha eleitoral que temos pela frente.
Denunciando os programas eleitorais já apresentados dos partidos da política de direita – PSD, CDS e PS – que, com algumas nuances de conteúdo e de ritmo, revelam o prosseguimento dos eixos essenciais da política que conduziu o país e o povo à situação de acentuado empobrecimento e crescente perda de soberania - deveremos intervir no sentido de projectar e esclarecer o alcance da nossa alternativa patriótica e de esquerda que radica nos valores de Abril, apontando-os para o futuro de Portugal.
É também com a convicção desta possibilidade que assinalámos o 70º aniversário da Vitória para que tragédia semelhante como aquela que foi a 2ª Guerra Mundial nunca mais aconteça.
Viva a Paz !
Fascismo nunca mais !
Viva o PCP !